sexta-feira, 1 de abril de 2011


Tempo Quaresmal

Artigo publicado no jornal "A Folha da Manhã", Campos, no dia 26 de janeiro de 2011, quarta-feira.


Na linha da Exortação Apostólica Verbum Domini – A Palavra do Senhor - do Papa Bento XVI, consideramos que o projeto de Deus, tornado falho pelo primeiro Adão, tornou-se realidade no novo Adão, Jesus Cristo. Começa de novo a criação. Jesus, o Verbo feito Carne, é também o novo Adão, o homem verdadeiro, aquele que cumpre em cada momento não a própria vontade, mas a do Pai. E Ele a cumpriu durante toda a sua vida, fazendo-se obediente até à morte de Cruz. “E por fim, a missão de Jesus cumpre-se no Mistério Pascal: aqui vemo-nos colocados diante da ‘Palavra da cruz’ (cf. 1 Cor 1, 18). O Verbo emudece, torna-se silêncio de morte, porque Se «disse» até calar, nada retendo do que nos devia comunicar”.


“Neste grande mistério, Jesus manifesta-Se como a Palavra da Nova e Eterna Aliança: estabelecida no seu sangue derramado (cf. Mt 26, 28; Mc 14, 24; L c 22, 20), mostrando-Se como o verdadeiro Cordeiro imolado, no qual se realiza a definitiva libertação da escravidão”.


“No mistério refulgente da ressurreição, este silêncio da Palavra manifesta-se com o seu significado autêntico e definitivo. Cristo, Palavra de Deus encarnada, crucificada e ressuscitada, é Senhor de todas as coisas; é o Vencedor, e assim todas as coisas ficam recapituladas n’Ele para sempre (Ef 1, 10). Desde o início, os cristãos tiveram consciência de que, em Cristo, a Palavra de Deus está presente como Pessoa”.


“Chegados por assim dizer ao coração da ‘Cristologia da Palavra’, é importante sublinhar a unidade do desígnio divino no Verbo encarnado: é por isso que o Novo Testamento nos apresenta o Mistério Pascal, de acordo com as Sagradas Escrituras, como a sua íntima realização. Também a ressurreição de Jesus acontece ‘ao terceiro dia, segundo as Escrituras’: dado que a corrupção, segundo a interpretação judaica, começava depois do terceiro dia, a palavra da Escritura cumpre-se em Jesus, que ressuscita antes de começar a corrupção: a vitória de Cristo sobre a morte se verifica através da força criadora da Palavra de Deus”.


“Assim, recordando estes elementos essenciais da nossa fé, podemos contemplar a unidade profunda entre criação e nova criação e de toda a história da salvação em Cristo. Por isso, a economia cristã, como nova e definitiva aliança, jamais passará, e não se há de esperar nenhuma outra revelação pública antes da gloriosa manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo (cf. 1 Tm 6, 14; Tt 2, 13) (Dei Verbum). Ele, ‘que nos deu a conhecer Deus’ (Jo 1, 18), é a Palavra única e definitiva confiada à humanidade. Ao dar-nos, como nos deu, o seu Filho, que é a sua Palavra - e não tem outra - Deus disse-nos tudo ao mesmo tempo e de uma só vez nesta Palavra única e já nada mais tem para dizer” (São João da Cruz).





Dom Fernando Arêas Rifan
Bisbo Titular de Cedamusa
Administrador Apostólico da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney